Só uma bolsa

Final do mês do nosso “Outubro Rosa” início do “Novembro Azul”, é bom ver os alertas que muitas pessoas e entidades fizeram e fazem para as pessoas, mostrando que tudo passa nessa vida e que quem supera o câncer está de boa e sempre pronto para ajudar as outras pessoas.

Acredito que exames de prevenção para qualquer tipo de câncer são o melhor alerta para todas as pessoas. Minha história prova isso, pois foi num exame preventivo de colonoscopia que descobri o meu, por destino, sorte, vontade de vencer, não sei, estava só no início, deu para retirar e curar. Passei por outras complicações maiores, mas já era outra história, uma infecção generalizada, 50 e uns dias de hospital, mais seis meses recuperando um corte infeccionado.

É a primeira vez que consigo escrever abertamente sobre tudo isso.

Toda mulher tem uma bolsa ou melhor, se possível, várias. Tenho uma porção, pequenas, médias e grandes, mas uma a mais é especial, pode acreditar. Quem a inventou, pelo que me contaram uma enfermeira na Dinamarca, deve ter sido um gênio, pois é uma bolsa que salva vidas. (Elise Sørensen foi uma enfermeira domiciliar nascida em 2 de Julho de 1903, na cidade dinamarquesa de Ordrup, tendo uma irmã mais nova, Thora Sørensen. Sua irmã foi o principal motivo para ela ter inventado a bolsa de ostomia – dados do Google).

Meu corpo mudou em todos os sentidos e a tenho como companheira que se prende a uma coisinha que chamo de “Sissi”, presa no meio da barriga, que expele do corpo o que deveria sair por outro lugar comum a todas as pessoas, para eliminar o que não precisa ficar no corpo, sem firulas no fiofó.

Literalmente sem ela eu não teria sobrevivido a um câncer no intestino. Tenho que conserva-la limpa e alguém que a troque para mim uma vez por semana, pois está posicionada no lado direito da barriga e é difícil de trocá-la sozinha, mas se necessário ou numa emergência eu mesma troco.

Enquanto isso minha alma corre, anseia por novas experiencias, novas viagens, novas artes e novas escritas. Mas eu não sou a mesma de antes, houve uma modificação no estado da minha parte matéria e assisto impaciente a superação da alma sobre o corpo, as vezes sou cruel algoz exigindo que ele prove conseguir e superar minhas expectativas.

Meu corpo tem me mostrado que tudo posso, mas a seu modo e seu tempo, um ritmo com o qual estou me acostumando aos poucos. O meu câncer foi no intestino grosso, isso te transforma e ninguém está pronto para as verdades que ele te mostra.

Depois que passa, é como estar no olho de um furacão, tudo fica tão quieto, tão parado e o renascimento é lento, as vezes a gente regride outras dá muitos passos adiante. A mente, as ideias, os conceitos, você com você mesmo, encarando o que quer ou não dos seus ideais. Você passa a optar por ceder em algumas coisas, varre para longe o que já não te serve, dá mais leveza a vida na sua frente.

Me sinto mais forte, com certeza. Mais evoluída, mais certa da força divina em minha vida e são os pequenos milagres de Deus que vejo na superação de cada dia, Isso é muito íntimo de cada um que vai superando essas fases. Muitos não entendem o teu silêncio, a divagação, estar com o pensamento longe ou quando você sai de perto de pessoas sem explicar o porquê.

Nunca se sabe o quanto de tempo nos resta, então sou outra, decidi ser outra, mesmo que tenha que aprender a deixar para lá certas coisas, certas saudades. Um dia depois do outro, pensar muito já não é tão importante, viver cada momento é. E a bolsa de ileostomia segue minha companheira para o resto da minha vida.

Posso viver por causa dos exames periódicos que detectaram a tempo o carcinoma. Se cuide também.

Verena R. Becker

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