BARRO VERMELHO

BARRO VERMELHO

Minha cidade natal tem como peculiaridade a situação geográfica em terras planas, missioneiras e vermelhas, propícias para o cultivo de grandes plantações, milho, soja, trigo e outros cereais. Paisagem a se perder no horizonte, até onde a vista alcançar. Lembrar dela aflora emoções e lembranças, principalmente de uma rua chamada Avenida Brasil, com um barro vermelho como se fossem ladrilhos de beleza incomparável, me atraiam como um imã.

O barro quando molhado, descalça podia sentir sua maciez e seu carinho abraçando os meus pés, escorregando por entre os meus dedos como carícias e desenhar mil coisas no barro, criar mãos das próprias mãos.

Fazer caminhos com a marca de um pé atrás do outro, num incansável, amassar, alisar, cheirar, extrapolar as sensações.

A terra vermelha atraia o olhar quando seca, porque brilhava no caminho marcado pelas rodas das carroças ou nas marcas deixadas pelos pneus dos carros, tratores ou caminhões. Dura, lustrosa e vermelha, brilhava o tanto como o chão de madeira da minha casa. 

Muitas vezes ofuscava e essa era a parte muito gostosa, fechava os olhos um pouquinho e os raios do sol refletidos no barro pareciam-se com mil estrelas brilhantes ou quem sabe diamantes.

Aprendi a semear a terra. Meu pai inventor de arados e pesquisador da melhor forma de plantar uma semente, me levava em suas experimentações e eu via e absorvia todo aquele conhecimento como água que sacia nossa sede. Depositadas pelas máquinas as minúsculas partículas iam parar nos sulcos perdidos ao longe.

Alguém disse que certos horizontes são propriedades de quem os pode admirar, estes são meus e posso admira-los quando bem entender. As sementes germinando, crescendo, tornando-se plantas, sugando da terra alimento, tornando-se frutos e cachos. Puro ato de amor.

Correr entre os trigais amarelos ainda fazem brotar nas minhas lembranças as colheitas que eram outro frenesi, os homens e máquinas açoitando os galhos cheios de cachos, colocados em sacos, iam se tornar lá nos moinhos, a farinha do pão gostoso, comprado na padaria bem pertinho da minha casa.

O barro vermelho e o vento norte, criavam bailados de poeira com diabinhos, descuidados, cabelos vermelhos encaracolados, lindos enfeitiçados.  São lembranças de felicidade que sempre estarão presentes neste velho coração.

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