Minha bolsa e a pandemia

MINHA BOLSA E A PANDEMIA

Primeiro fiquei muito assustada com as mudanças na minha vida, no meu corpo e nessa relação com ele. Depois decidi mudar, enfrentar e, de certa forma, alertar as pessoas mostrando que tudo passa nessa vida. Nosso ponto de vista, único em cada criatura racional, muda sempre. Em tempos de pandemia aumentou muito, para a grande maioria pensante, o modo de sentir nosso poder de adaptação e de conhecimento próprio.

Tenho bolsas de uso pessoal como qualquer mulher. Um acessório útil e necessário, sempre com o desejo de possuir uma diferente, mais útil e principalmente mais bonita, não sou exceção a regra desse complemento na vida normal de qualquer mulher.

Por força da circunstância adquiri uma muito especial, na verdade são caixas e caixas de um modelo muito diferente das bolsas tradicionais e estou acostumada a trocá-la de quatro em quatro dias e por enquanto não posso ficar sem elas, apesar do trabalho que dá dia e noite, para conservá-la limpa. Sim! No mínimo de três em três horas. Isso não me incomoda porque salvou a minha vida, literalmente sem ela não sobrevivo momentaneamente.

É claro que essa bolsa é especial. Quem a inventou deve ter sido um gênio, pois ela salva vidas. Descobri que em nossa cidade existem muitas pessoas com o mesmo modelo, no mundo todo pessoas a usam e algumas nunca poderão deixar de usá-la, mesmo depois da pandemia.

Meu corpo mudou em todos os sentidos e as tenho como companheiras que se prendem ao redor de uma coisinha que chamo de “vulcãozinho”. Ele expele do corpo o que não é necessário e deveria sair por outro lugar. Provavelmente depois da pandemia, com uma nova cirurgia, vou me separar delas, meu corpo vai voltar a funcionar normalmente e até vou sentir falta.

Enquanto isso minha alma anseia pela vida e pela cura completa que sei que virá. Mas eu não sou mais a mesma, houve uma modificação no estado da minha parte matéria, embora minha mente exigir do meu corpo mais do que ele pode dar, aprendi a ter paciência comigo, com as pessoas que me rodeiam e ajudam nessa trajetória.

Meu corpo tem me mostrado que tudo posso, mas a seu modo e seu tempo, um ritmo com o qual estou me acostumando aos poucos. O meu câncer foi no intestino grosso em quatro pontos. Ele te transforma e ninguém está pronto para ouvir um diagnóstico de carcinoma, principalmente na era da internet em que você corre ao computador e confirma o que isso realmente é no Google da vida.

Mas depois de estar quase um mês num hospital, cheia de canos por todos os lados entrando ou saindo do teu corpo, aprende-se a ter paciência e agradecer a cada pessoa que nos cuida pelo carinho com que o fazem, pelo sorriso que acalma quando se está com medo, pelas palavras de ânimo na recuperação.

Depois que passa, é como estar no olho de um furacão, tudo fica tão quieto, tão parado e o renascimento é lento, a mente, as ideias, os conceitos, você com você mesmo, encarando o que quer ou não dos seus dias, sonhos e ideais. Opta por ceder a muitas coisas e varre para longe o que já não te serve.

Estou mais forte, mais certa da força divina em minha vida, são os pequenos milagres de Deus. Nunca se sabe quanto tempo nos resta, então sou outra, aprendi a deixar para lá. Pensar muito já não é tão importante, viver cada momento o é.

E as bolsas de ileostomia seguem minhas companheiras enquanto eu a precisar, anseio pela passagem da pandemia, não posso reverter a cirurgia e ficar sem essas queridas bolsas antes de ter certeza de que não irei me contaminar no hospital.

Não tive o Covid 19, passo meu tempo praticamente em casa, saio raramente e só para questões necessárias, mas dependo das outras pessoas, para que se cuidem e que todo mundo entenda o quanto é importante ajudar a diminuir que esse vírus circule livremente.

Sem a melhora das condições de contaminação continuarei na espera, como muitas pessoas com outros tipos de doenças e necessidades de vagas em hospitais, para poder terminar o tratamento e fazer as cirurgias necessárias. A pandemia não é simplesmente o vírus, nem afeta só as pessoas que são contaminadas, ela envolve milhões de outros com tantas e outras necessidades.

Por favor cuide-se!

Verena Rogowski Becker
25/07/2021

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