Lembrar infância

LEMBRAR INFÂNCIA

As lembranças de infância aumentam na medida em que vamos envelhecendo. Uma das minhas melhores lembranças é de um grande canteiro de margaridas brancas, no jardim da minha avó Emília. Eu vivia no mundo dos sonhos, hoje diria no mundo da lua, tudo era mágico. A luz do sol mostrando poeirinhas brilhantes que se dissipavam pelo ar, as margaridas ali, prontas para serem roubadas, uma a uma para o jogo do bem me quer- mal me quer, a carícia nos troncos das árvores para sentir sua aspereza ou o liso vigor, quase que podendo sentir a seiva escorrer pelo interior como a pulsação de um coração valente e vigoroso. Maravilhosa sensação de correr na chuva de verão, sentir os pingos escorrendo na face e nos pés descalços no gramado do potreiro.

Temos uma criança dentro de nós, essa que volta com o passar dos tempos. A que ficou escondida por anos na mente, pois as tarefas do dia a dia, os compromissos, os filhos e até em parte os netos faziam com que a esquecêssemos. Ser adulto é um compromisso tão chato, esquecemos o quanto dói um machucado e vamos logo falando que vai passar. Sim! Tudo passa e de repente vemos que a vida é mágica e continua ao nosso redor, a imaginação e as lembranças voltam, as vontades os sonhos se reavivam. Apesar de nossa “Erfharung” (experiência), nossa mente é mais livre, mais sonhadora, menos chata, menos exigente com tudo e com todos.

Apesar das limitações que nosso corpo nos impõem, a mente reivindica com paixão o tempo perdido que muitas vezes tratamos com mais seriedade do que o necessário e vemos ressurgir aqueles pensamentos da infância, reaviva nosso olhar quando podemos contar as travessuras e os momentos de reflexão infantil. Pensando dessa forma podemos ver que o mundo é muito mais descomplicado do que o tornamos por muito tempo e que vale a pena reviver em pensamento, escrevendo ou ajudando nossos pequenos de hoje a entender que na vida tudo passa, tudo se renova e se possível volta, nem que seja só em nossa mente que os mais jovens entenderão como conturbada.

Verena Rogowski Becker
26/03/2020

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