A LEITURA
Ler é escutar uma voz silenciosa que conversa incansavelmente sem produzir um só som e mesmo assim, derramando formas, pensamentos e histórias para o homem. Podemos ler poesias, poemas, contos, crônicas, romances, livros de autoajuda, espaços nos jornais e revistas, onde os autores abrem, para a nossa interpretação as suas ideias, pensamentos e criações.
A leitura marcou as gerações até o despertar da internet. Os fatos que aconteceram durante a ditadura militar no Brasil, deixaram marcas profundas no meu modo de pensar. Foi uma época complicada para quem vivia perto dos grandes centros políticos e culturais do país, exerceu menos influência nos jovens das cidades interioranas, como eu, em cujas escolas os professores podiam se dar ao luxo de expressar um pouco e com cuidado seus pensamentos “subversivos”, sem sofrerem consequências repressivas por parte das autoridades.
Na época, o pouco acesso às informações dos acontecimentos, a falta da televisão e a instigação de certos professores aos pensamentos de liberdade de expressão, propiciaram o gosto pela leitura, principalmente daquelas proibidas pela ditadura. A leitura era como um videogame, vicio meu e por isso assídua frequentadora da biblioteca na escola de freiras onde estudava. Sonhei com as imagens das histórias de Monteiro Lobato, pensei ser Alice, a Bela Adormecida, a Rapunzel, a Gata Borralheira. Estudei os autores brasileiros.
Passei por fases e diferentes tipos de leitura: romances, técnicos, autoajuda, pensamentos positivos, filosóficos, artes, pedagógicos, ficção científica, bíblia e outros. Simplesmente livros e mais livros, mas ler também pode ter outros significados. Podemos ler imagens, podemos ler a fisionomia ou o gesto de pessoas, podemos ler o que o outro tem em mente só pela expressão de seus olhos ou posição de sua boca. Ler imagens na forma das nuvens, que é uma brincadeira de criança, castelos, soldados, cavalos, coelhos, dragões que vão se deformando aos poucos ou ler suas cores para decidir se vai chover ou não. Os índios se comunicavam lendo a forma da fumaça de suas fogueiras feitas com o movimento dos mantos coloridos. As imagens que fazemos na leitura são como retas que se cruzam em um ponto comum de uma folha em branco. As duas nos dão direitos iguais de fugir da realidade ou de ver outras realidades, nos conduzindo para um mundo mágico.
A leitura sensibiliza e se torna o centro do processo criativo no ser humano, continuamente nos abastecemos fisicamente, socialmente e espiritualmente para podermos nos conhecer melhor e nos relacionarmos melhor com o mundo exterior. Ler possibilita o desenvolvimento das emoções despertando uma existência interior e a construção da personalidade. Da tabua de giz ao computador a leitura hoje é feita das maneiras mais inusitadas e são interpretadas individualmente por cada um.
Ler já era um vício, escrever para que outros leiam foi um trabalho que começou de mansinho, meio escondido saindo das gavetas da escrivaninha. Fui meio que empurrada nos cursos que fiz, meio atravessada nas explicações que li, mas consegui explodir e agora, ler continua um vício e escrever para que leiam um grande desafio.
Verena Rogowski Becker
07/11/2020