O Casarão

O CASARÃO

Leonardo acordou encostado em uma parede fria com o corpo dolorido, sentia gosto de sangue na boca e sua cabeça doía muito, procurou levantar-se, não conseguiu, voltou à posição anterior. Lembrou do momento em que três indivíduos lhe haviam espancado, pois recusara dar carteira e chaves do carro no estacionamento do restaurante onde jantou.

Abriu os olhos para ver onde estava, precisou segurar a cabeça com uma das mãos pela dor lacerante sobre o olho esquerdo que inchado dificultava um pouco a sua visão, mas pode perceber que estava em um lugar abandonado, talvez um prédio antigo pela grossura das paredes externas. Fixou os olhos nas poças d`água que refletiam as janelas em arco pelas quais a luz do sol ou de algum holofote de grande potencial penetrava no ambiente, uma escada curvada em meia lua indicava que estava no térreo do prédio, nada mais poderia precisar, uma luz forte encobria a visualização para fora daquele espaço, poderia ser noite ou dia.

As pichações feitas por artistas incógnitos sobre a cobertura rachada das paredes não deixavam dúvidas sobre o abandono, não fosse sua incapacidade de locomoção e a dor que sentia examinaria com mais detalhes, como engenheiro que era, confirmando que estava num palacete eclético dos tempos da burguesia industrial. Pela largura dos vãos das janelas e a estrutura metálica que as contornava sem as grades, calculava que a construção poderia ser de taipa de pilão, mas tinha dificuldade de precisar sua opinião porque o teto possuía ondulações e parte do segundo piso, daquela distância em que se encontrava, lhe parecia feito de concreto.

Assustou-se com o barulho que veio de uma porta de arestas definidas localizada na parede oposta embaixo da escada, lá a escuridão era total. O seu conceito de casa ruiu por alguns momentos, deveria ser um lugar de proteção e abrigo ao menos nos seus valores simbólicos, mas estava com medo. O ambiente lhe pareceu ainda mais gelado, fechou os olhos por um momento como se fosse rezar, do escuro saiu um pequeno rato que correu evitando as poças de água passando por baixo da escada e pulando por outra abertura da qual só vislumbrava um fio de luz.

– Perspectiva perfeita. – Falou, inclinando-se um pouco para ver os tênis, a calça jeans apertada, uma blusa colorida e depois a figura inteira da moça morena que descia pela escada lentamente e que ao vê-lo pulou os últimos quatro degraus com muita agilidade correndo sobre os entulhos até onde ele se encontrava.

– Você está sangrando muito! – Exclamou, largando a lata de tinta spray que tinha nas mãos.

Leonardo agora sabia quem era a artista daqueles desenhos nas paredes, havia esperança de sobreviver, fechou os olhos e não viu mais nada.

Verena Rogowski Becker
04/04/2016

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