Naquele Dia

NAQUELE DIA

Com a luz maravilhosa do sol entrando pela janela acordo feliz hoje pode ser um dia especial. A brisa perfumada me projeta na imensidão do meu amor por ele, sentimento que foge ao alcance da realidade.

Sigo meu caminho preciso trabalhar, seu Isidoro não vai me tirar do serio hoje, mas eu sei que vai encontrar uma conta errada nos meus relatórios, sempre encontra. Rico, ranzinza e murrinha poupa cada centavo e não dá nada para ninguém, vai ver que por isso é mal amado nem mulher ele tem.

Sentada na minha mesa, coloco meu celular ao lado do teclado as mensagens chegam pelo WhatsApp, algumas eu leio outras deixo pra lá. Os relatórios faço e refaço detesto contas qualquer dia eu caso com Vicente e não vou mais precisar dessa droga de emprego.

Baixo o olhar e vejo as palavras que completam meu dia.

– Fica no escritório na hora do almoço quero falar contigo pelo computador.

– Porque pelo computador? – Fico teclando disfarçadamente. – Não posso fazer isso Vicente, se alguém descobrir eu posso me ferrar.

– Não tem problema, eu ligo pelo Skype, ninguém vai saber, é sobre um assunto importante e quero estar olhando nos teus olhos.

Concordo com ele, apesar do perigo acredito que deve ser o pedido de casamento que vem protelando, mas porque ele não espera se já volta na próxima semana ouserá tão romântico a ponto de me convidar para encontra-lo em Veneza.

Meio dia. Aceito imediatamente a ligação e vejo meu amor pela tela, está mais gato do que nunca, um arrepio passa pelo meu corpo como se estivesse pertinho sentindo o cheirinho bom do perfume dele.

– Olá minha princesa cada vez mais bonita.

– São teus olhos amor, mas o que é tão importante para que eu tenha que quebrar as regras da empresa?

Contive um grito, meus olhos se encheram de lágrimas enquanto Vicente levanta a mão e me mostra um pequeno anel de brilhante no dedo mínimo.

Esqueço tudo minhas pernas tremem, apesar de não receber o convite que esperava sinto emoção nas palavras dele falando da sua chegada ao Brasil, sobre o casamento e me perguntando se iremos morar no meu apartamento ou no dele. Nada importa mais, esse momento me faz ainda mais feliz sinto que éum dos dias mais perfeitos da minha vida e não vou estragar tudo por um desejo não realizado.

Minhas colegas sentiram a felicidade estampada no meu rosto durante toda tarde. Contei para elas é muita emoção para guardar num só coração e a tarde parece que passou voando.

Desligo o computador, pego minha mochila e o telefone toca.

– Droga, droga, droga é o número dele, mais uns centavos que devo ter errado nas contas, desta vez nada muda meu astral.

Entro na sala e ao lado do seu Isidoro, plantado como uma múmia, está o Mario do setor tecnológico. Mas o que será que está acontecendo para ele me chamar com esse cara ao mesmo tempo, só pode ser brincadeira.

– Você recebeu uma ligação internacional hoje?

Não me deu tempo para responder, mas entendi tudo no momento que ele virou o computador e vi na tela que os números bancários da conta que cuido de um dos clientes da empresa estavam zerados. Como um flash instantâneo sabia que fora Vicente enquanto mostrava o anel, roubou na minha cara e nem posso negar nada para esse rabugento, nem tenho como provar que não fui eu.

Sem trabalho e sem amor é como estou me sentindo agora, sei que vou responder um processo, tenho que contar toda historia apesar de saber que não vão acreditar. Maldito Mario, ficar me cuidando enquanto recolho minhas tralhas.
Estão me olhando por quê? Choro de raiva não ia chorar na frente deles, devo parecer um zumbi com essa maquiagem escorrendo. Olho para o celular, ele não atende, maldita ideia de namorar pela internet. Fico parada esperando o trem olho para os trilhos e vejo o brilho daquele anel, é ele. O trem apita pulo sem pensar preciso pega-lo é a única lembrança de um amor que nunca existiu. Escurecem meus pensamentos.

Verena Rogowski Becker
15/02/2016

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