MANINHA​

MANINHA

Desde que foi a São Paulo maninha não foi mais a mesma. De casamento marcado para aquele dezembro foi comprar seu vestido de noiva.

     Nossos pais iam seguido para a capital.  Mamãe passeava muito e descobriu uma rua em que só haviam lojas com vestidos de noivas, resolveram levar maninha. O vestido seria escolhido naquele lugar.
     Maninha contou que a peregrinação de loja em loja foi uma das coisas mais estressantes e cansativas da vida dela. Entra, experimenta, sai. Uma, duas, três, uma infinidade e ela já não sabia o que escolher.
     Talvez nenhum, pensou enquanto experimentava um de renda, pesado pra caramba, até casar nua, de sotiem e calcinha, quem sabe chamaria mais atenção. O que mamãe pensaria sobre o que ela pensou? Seria divertido ouvir o sermão. 
     Particularmente não achava ser esse um mês para casar, mas era ela a noiva. Sabe preparação de advento, Natal, Ano Novo, muitas festas, eu ia escolher um mês neutro, só meu.
     Imagina como seria dizer “Casei perto do Natal “, “Era um sábado de Advento quando casei”, “Foi perto do Ano Novo” ou foi entre os dois. Nossa eu ia achar um horror, 
     O meu seria num dia qualquer, num lugar qualquer ao ar livre, de preferência, e se viesse uma chuva pegando todos de surpresa, daria graças por poder fugir com meu noivo para longe dos convidados.    

      Voltou com o vestido numa caixa enorme, linda, toda decorada, eu tinha dose anos e me pareceu a caixa ser mais bonita do que o vestido. Mas como já falei, era ela quem ia casar.
     Uma semana antes do casamento, maninha se irritava com qualquer coisa, chorou, ficou quieta em nosso quarto sem dizer uma palavra. Mamãe explicou no almoço que toda noiva ficava nervosa antes de casar, coisa lógica para a mudança de vida que ia acontecer.
     Um dia antes da grande data, para toda família, as disputas de penteados nos salões de beleza da cidade, decoração do clube, buffet e tudo que comporta um casamento cheio de dengues de pais e principalmente de mães de noivas. Maninha sumiu.
    Para dizer a verdade, fugiu. Deixou uma carta pedindo perdão, se desculpando com o pai e a mamãe, amigos e convidados, mas em nenhum momento explicou o porquê.
     Mamãe chorou, papai colocou a polícia há procurar por ela, o noivo ficou desolado. Mas ninguém encontrou nenhum indício dela, nem para onde tivesse ido. Depois até devolveram os presentes. 
     Mas não me parecia bem isso. Maninha realmente mudara, saia de casa para falar ao telefone, olhava para as estrelas de noite na janela do nosso quarto, parecia voar para longe. Mudou seu jeito de ser, vestir, pensar, até de comer.
     Recebemos uma carta, alguns meses depois, explicando que escolhera outra vida, melhor, mais significativa. Aquela cidade mexera com seus sentimentos mais profundos, queria viver aquilo, a liberdade de ser quem quisesse sem que alguém falasse dela.

     Finalmente ela se parecia comigo, pois sempre me senti a ovelha negra da família, aquela que não queria o convencional, desejando me livrar daquele jeito de cidade pequena onde todo mundo fala o que não deve dos outros.  Ela mudou, acredito que até me entendeu desde que foi comprar seu vestido em são Paulo.

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