Essa pergunta me ocorreu quando visitei o Vaticano, especificamente o museu. A primeira impressão que tive ao esperar numa enorme fila para entrar já me deixou fazendo cálculos dos valores arrecadados, pois só naquele dia ali estavam umas vinte mil pessoas e em euros contabilizei o valor considerável. Depois esqueci esse detalhe frente as maravilhas expostas, a imponente arquitetura e as peças das diversas alas do museu, pois como professora de artes fiquei encantada em ver peças que até então só vira em livros.
Devo confessar que a Capela de Sistina me decepcionou, a pintura de Leonardo também. Eu imaginava-a enorme, mas tal qual Mona Lisa era pequena e pensei que deveria ter levado um binóculo para poder ver com mais detalhes. Minha ironia pode parecer ingrata com tanta beleza num teto maravilhoso de causar falta de ar, que também era provocada pelo número enorme de pessoas aglomeradas dentro da capela, isso que o número era controlado pelos guardas.
À noite, quando deitei na deliciosa cama do hotel as perguntas não me deixavam dormir, uma após a outra terminavam sempre na pergunta sobre riqueza e pobreza no mundo e sobre qual é a função da religião, dos padres, dos que representam esse Deus bondoso cristão ou aquele que tudo ensinou de fé, seu filho Jesus. Também me perguntei se existia uma mostra do que o Vaticano faz com tanto dinheiro que arrecada.
O que mais me deixou com a pulga atrás da orelha, como se diz no folclore gaúcho, foi o museu em que poucas alas mostravam coisas religiosas ou da história da religião cristã. Em sua maioria vemos sarcófagos egípcios, múmias, gatos embalsamados, estátuas gregas, ouro, muito ouro em muitas peças expostas. Todas peças de povos que não eram cristãos e sim história da humanidade, embora isso não seja relevante, mas ao meu ver, se vendidas para outros museus históricos reverteriam muito, mas muito dinheiro que poderia amenizar a pobreza no mundo.
Dormi com a imagem maravilhosa, apesar das críticas que fiz no início pelo tamanho, do dedo de Deus quase tocando o dedo de Adão e pensei que Leonardo teve um motivo para não os encostar, seria pelo mesmo motivo que eu critico? O homem enquanto igreja, representante de Deus na terra, procura o poder mostrando um museu tão rico e tão fora da história cristã? Sabe-se que as pinturas daquela época sempre tinham incluídas as faces de religiosos e políticos de destaque, então posso deduzir pelo meu pouco conhecimento que Leonardo também poderia estar criticando tanto poder e riquezas em um mundo cheio de fome e tristeza.